domingo, 7 de dezembro de 2014

A importância dos livros e das histórias na aprendizagem da criança


O educador deve proporcionar às crianças o contacto com história e livros. Pois estes são um “…factor eminentemente lúdico e educativo…” (Bastos, 1999, p.21) e portanto os adultos, tanto pais como educadores de infância, devem aproveitar, o máximo possível, este recurso. O contacto das crianças com este material didático deve ser promovido desde a Creche. Contudo, é no Jardim de Infância que as crianças começam a adquirir “… um maior domínio da linguagem oral…” (Ministério da Educação, 1997, p.66). Este domínio da linguagem deve ser estimulado pelo educador, devendo este encontrar estratégias para que as crianças se vão apropriando de mais léxico, consigam começar a construir frases complexas, que desenvolvam a prosódia, algumas regras morfológicas, se desenvolvam a nível pragmático, passem a ter mais atenção à concordância nas frases, entre muitos outros aspetos (cf. Sim-Sim, Silva e Nunes, 2008). Assim, com base no que foi referido anteriormente, o educador tem um papel indispensável nesta estimulação linguística nas crianças, não desfazendo o papel dos pais.

Também se desenvolverá a literacia nas crianças se o ambiente tiver sentido para elas e for estimulante, por exemplo relativamente à diversidade de materiais utilizados para contar histórias e da variedade de tipo de textos lidos. Entende-se por literacia, a “…competência global para a leitura no sentido de interpretação e tratamento da informação…” (Ministério da Educação, 1997, p.66). Assim, de forma progressiva, a criança vai-se apropriando da capacidade de refletir sobre a informação que, por exemplo, as ilustrações transmitem, tal como se vai apercebendo das funcionalidades da escrita.

Além do desenvolvimento da literacia, a criança também vai explorando o “carácter lúdico” dos livros, através da sua exploração e momentos de partilha de histórias (Idem. p.67). O livro, segundo afirma Barbosa (2003), “… é um objeto lúdico de descoberta do mundo e das pessoas, e um meio de enriquecimento da linguagem e da comunicação…” (p.50).

De seguida apresentar-se-à exemplos de livros com potencialidades para se trabalhar com as crianças no Jardim de Infância.

Livro: "Lenga lengas”
Autor: Luísa Ducla Soares.
Ilustrador: Sofia Castro.
Ano de publicação: 1997.
Editor: Livros Horizonte.

Este livro apresenta lengalengas, as quais podem ser próximas do quotidiano da criança, isto porque, são lengalengas que se transmitem de geração em geração e sobre diferentes temas.
Resumo da história: Esta obra é constituída por várias lengalengas e uma delas é “Eu fui a Viana”. Esta lengalenga fala de vários locais que se podem visitar em Portugal, sendo que se faz referência a diferentes meios transportes para se chegar a cada destino.

As lengalengas podem ser usadas em diversos contextos por exemplo, em contextos de brincadeira (e.g. saltar à corda), de ida para o refeitório, casa de banho, etc.

Género: Jogos de linguagem.
Discurso: Rimas e aliterações.
Potencialidades pedagógicas: As lengalengas são uma forma de literatura tradicional a qual é transmitida oralmente de geração em geração. As lengalengas apresentam temáticas diversificadas surgindo no contacto entre adulto-criança, tal como entre criança-criança. Por serem tão próximas da criança, e devido à sua diversidade, têm o potencial de serem usadas em diversos contextos, como por exemplo, na ida até à casa de banho, na ida até ao refeitório, tal como em contexto de brincadeira. As lengalengas apresentam alguma sonoridade e ritmo o que facilita a sua memorização, mas também devido à sua pouca extensão pois na maioria as lengalengas são curtas, o que também facilita a sua aprendizagem por parte das crianças. Deste modo, as lengalengas podem ser usadas em diversos contextos e em diversos momentos da rotina do Jardim de Infância. Esta obra serve para trabalhar a consciência fonológica (e.g. reflexão sobre os segmentos sonoros das palavras, articulação, discriminação auditiva), a memorização e discussão sobre o significado das palavras.

Livro: "Varre, varre, vassourinha”
Autor: António Torrado.
Ilustrador: Romeu Costa.
Editor: Plátano Editora.

Este livro apresenta vários trava-línguas e, na generalidade, estes estão próximos da realidade das crianças.
Resumo da história: O livro é constituído por vários trava-línguas, como por exemplo há um trava línguas sobre um gato maltês e outro sobre uma galinha pedrês.
O conteúdodeste livro pode ser usado para memorizar e reproduzir.

Género: Jogos de linguagem.
Discurso: Rimas e aliterações.
Potencialidades pedagógicas: Esta obra serve para trabalhar a consciência fonológica (e.g. reflexão sobre os segmentos sonoros das palavras, articulação, discriminação auditiva) e a memorização, tal com o livro anterior.

Referências bibliográficas
Barbosa, M. (2003). O livro- Instrumento de comunicação em crianças com Necessidades Educativas Especiais (Dissertação de mestrado em Psicologia do Desenvolvimento e da Educação da Criança, na especialidade de Intervenção Precoce). Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Porto.
Bastos, G. (1999). Literatura Infantil e Juvenil. Lisboa: Universidade Aberta.
Ministério da Educação. (1997). Orientações Curriculares para a Educação de Infância. Lisboa: Ministério da Educação.
Sim-sim, I., Silva, A. & Nunes, C. (2008). Linguagem e comunicação no jardim-de-infância. Lisboa: DGIDC.
Soares, L. (1997). Lenga lengas. Lisboa: Livros Horizonte.
Torrado, A. (s.d.) Varre, varre, vassourinha. Lisboa: Plátano.


sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

As cores preferidas do nosso Jardim de Infância


“… o quotidiano do Jardim de Infância  oportunidade às crianças de aprenderem matemática, através de inúmeras experiências…” (Cabral, 2003, p. 29)

As tarefas que a seguir serão apresentadas abordam o tema matemático Organização e Tratamento de Dados (OTD).
A recolha de dados e o seu tratamento permitem que as crianças aprendam algo sobre o qual não sabiam (Basile,1999, p.9; NCTM, 2008, p.127) e ajuda no desenvolvimento do pensamento crítico, na resolução de problemas e, também apoia e desenvolve habilidades na representação matemática (Lacefield, 2009). Segundo o autor Baber (2004), o raciocínio lógico, aquando o tratamento de dados, deve ser estimulado e apoiado com recurso a diversas formas de registo da informação a recolher.

O primeiro passo a percorrer em OTD é o de formular uma questão inicial, esta que, ao longo do desenvolvimento do trabalho, deve fornecer dados aos “investigadores” para que estes consigam dar-lhe resposta.

Após se definir a questão, o segundo passo refere-se à recolha de dados. Nesta fase, é muito benéfico para o desenvolvimento matemático das crianças que sejam elas a escolher os dados, a decidir qual “… a forma de os recolher e organizar…” (Castro e Rodrigues, 2008, p.60). 

O terceiro passo prende-se com o tratamento dos dados recolhidos. “após a recolha e registo dos dados, torna-se necessário proceder à sua organização, formando conjuntos (classificando) de acordo com os atributos a analisar” (Castro e Rodrigues, 2008, p. 62). Não se devem utilizar critérios com os quais as crianças, à partida, não estejam familiarizadas. Ou seja, deve-se ter em conta os conhecimentos já adquiridos e os conteúdos já trabalhados com as crianças e adaptar esses aspetos ao nível de desenvolvimento de cada uma. No entanto, deve-se exigir rigor nas representações das informações que as crianças elaboram, levando-as a refletir para que percebam o porquê de ser indispensável esse mesmo rigor. 

Segundo estes autores, há duas formas possíveis de organização/representação dos dados: tabelas e gráficos. Através da organização dos dados, deve-se também proceder à análise dos resultados obtidos de forma a tentar dar resposta à questão inicialmente formulada. As crianças estão habituadas a contactar com as tabelas, especialmente, pois na maioria das salas de tarefas existem, por exemplo, o mapa de presenças, o mapa do tempo, entre outros. 

A última fase de OTD prende-se com a análise e discussão dos resultados. As discussões em grande grupo deverão basear-se naquilo que a representação transmite e, também na importância dos dados apresentados levarem às conclusões das questões colocadas inicialmente. Para este facto os educadores devem encorajar as crianças a comparar dados, isto independentemente das crianças organizarem os seus dados em tabelas ou em gráficos. As crianças devem refletir e analisar o que fizeram individualmente e/ou em pequeno grupo e, posteriormente, em grande grupo partilhando o que se vivenciou, o que decidiu, as conclusões a que se chegou, entre outros aspetos relevantes, fazendo os colegas refletir e analisar de forma crítica a representação elaborada.

Como se pode verificar as tarefas apresentadas proporcionam o trabalho em grupo, deste modo, implica que as crianças saibam tomar decisões em pequeno grupo, sabendo, desta forma, ouvir/respeitar a opinião dos outros. Em grupo as crianças também deverão saber partilhar ideias e refletir sobre os dados. Deste modo, em interação as crianças trabalham numa numa Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). Segundo o autor Bertrand,

a zona de desenvolvimento proximal é a distância que existe entre o que se sabe fazer (o seu estado de conhecimentos real e a sua perícia psicomotora actual) e aquilo que se pode fazer, isto é, o estado final do seu desenvolvimento quando alguém lhe mostra como se joga (2001, p. 132)

Com as tarefas a seguir propostas pretende-se que haja interação entre pares de forma a estimular a troca de conhecimentos e aprendizagens.


Tarefas para trabalhar Organização e Tratamento de Dados no Jardim de Infância


Objetivos gerais das tarefas apresentadas
  • Recolher dados do meio circundante;
  • Organizar os dados em tabelas e/ou noutras formas de representação à sua escolha;
  • Discutir e partilhar os resultados da recolha de dados.

Tarefa 1 – “Qual a nossa cor preferida?”


- Crianças em grande grupo;
- Educador sugere às crianças recolherem as cores preferidas das pessoas do Jardim de Infância (aqui podem, além das crianças das outras salas de atividades, incluir as assistentes operacionais e os educadores e, também, seria curioso, recolher as cores preferidas dos encarregados de educação das crianças) – O tema/assunto deve ser do interesse da criança. Desta forma, a ideia podia ter surgido de uma situação anterior, de uma história, por exemplo ("As cores do Elmer" Autor: David Mckee, Editora: Caminho);


- Decidir os pequenos grupos de crianças a serem formados;
- Cada pequeno grupo ficaria responsável por uma sala de atividades, outro pelas assistentes operacionais e educadores;
- Cada pequeno grupo decide como quer recolher/registar os dados/cores preferidas 8º educador dá 3 hipóteses de recolha e cada grupo escolhe uma);




Objetivos pedagógicos:

·         Participar na discussão sobre a forma de registo mais adequada;
·         Trabalhar de forma cooperativa com os colegas;
·         Participar na construção do instrumento de registo.

Tarefa 2 – “Vamos recolher as cores preferidas do nosso Jardim de Infância”


- Cada pequeno grupo vai à sala de atividades onde ficou de recolher os dados;
- O educador, enquanto cada pequeno grupo está numa sala de atividades a recolher os dados deve ir circulando pelo Jardim de Infância de modo a apoiar eventuais dificuldades das crianças;

Objetivos pedagógicos:
·         Participar na recolha de dados e no seu registo;
·         Cooperar e interagir com as outras crianças das outras salas de atividades.

Tarefa 3 – “Que cores foram recolhidas?”


- Depois da recolha, num momento posterior ou logo a seguir à tarefa 2, cada grupo analisa os dados registados;
- O educador apoia cada grupo dando 3 hipóteses de representação da informação e cada grupo escolhe uma (podem ser 3 hipóteses diferentes para cada grupo para haver maior diversidade de representação);

Objetivos pedagógicos:
·         Refletir sobre os dados recolhidos;
·         Discutir sobre a forma como vão organizar os dados;
·         Participar na organização e tratamento dos dados elaborando a forma de representação escolhida.

Tarefa 4 – “Vamos apresentar as cores preferidas do nosso Jardim de Infância”

- Cada pequeno grupo apresenta ao grande grupo a sua representação da informação elaborada – A representação (e.g. gráfico de barras) deve ser elaborado numa tarefa relacionada com as artes plásticas, por exemplo, trabalhando diversos materiais;
- Cada pequeno grupo faz uma análise dos dados que recolheu (e.g. qual a cor preferida de cada sala de atividades; qual a menos preferida; qual a cor que determinada sala não referiu, etc.);
Em grande grupo, no final de todos apresentarem podem expor as representações recorrendo a análises comparativas entre cada representação.

Objetivos pedagógicos:
·  Participar na discussão em grande grupo sobre os resultados obtidos;
·  Refletir corretamente sobre as questões colocadas pelo grande grupo e pelo educador;
·  Comparar suportes de organização de dados.

Referências Bibliográficas

Basile, C. (1999). Collecting data outdoors: Making connections to the real world. Teaching Children Mathematics, 8-12.
Bertrand, Y. (2001). Teorias contemporâneas da educação. Lisboa: Instituto Piaget.Cabral, A. (2003). Os gráficos no Jardim de Infância. Educação e Matemática, 71, 29-31.
Castro, J. & Rodrigues, M. (2008). Sentido do número e organização de dados- Textos de apoio para Educadores de Infância. Lisboa: Ministério da Educação (DGIDC).
Lacefield, W. (2009). The power odf representation: Graphs and Glyphs in data analysis lessons for young learners. Teaching Children Mathematics, 324-326.
National Council of Teachers of Mathematics (2008). Princípios e normas para a matemática escolar (2.ª edição). (APM, Trad.). Lisboa: APM (Obra original publicada em 2000).