“… o quotidiano do Jardim de Infância dá oportunidade às crianças de aprenderem matemática, através de inúmeras experiências…” (Cabral, 2003, p. 29)
As tarefas que a seguir
serão apresentadas abordam o tema matemático Organização e Tratamento de Dados
(OTD).
A recolha de dados e
o seu tratamento permitem que as crianças aprendam algo sobre o qual não sabiam
(Basile,1999, p.9; NCTM, 2008, p.127) e ajuda no desenvolvimento do pensamento
crítico, na resolução de problemas e, também apoia e desenvolve habilidades na
representação matemática (Lacefield, 2009). Segundo o autor Baber (2004), o
raciocínio lógico, aquando o tratamento de dados, deve ser estimulado e apoiado
com recurso a diversas formas de registo da informação a recolher.
O primeiro passo a
percorrer em OTD é o de formular uma questão inicial, esta que, ao longo do
desenvolvimento do trabalho, deve fornecer dados aos “investigadores” para que estes
consigam dar-lhe resposta.
Após se definir a questão,
o segundo passo refere-se à recolha de dados. Nesta fase, é muito benéfico para
o desenvolvimento matemático das crianças que sejam elas a escolher os dados, a
decidir qual “… a forma de os recolher e organizar…” (Castro e Rodrigues, 2008,
p.60).
O terceiro passo prende-se
com o tratamento dos dados recolhidos. “após a recolha e registo dos dados,
torna-se necessário proceder à sua organização, formando conjuntos
(classificando) de acordo com os atributos a analisar” (Castro e
Rodrigues, 2008, p. 62). Não se devem utilizar critérios com os quais as
crianças, à partida, não estejam familiarizadas. Ou seja, deve-se ter em conta
os conhecimentos já adquiridos e os conteúdos já trabalhados com as crianças e
adaptar esses aspetos ao nível de desenvolvimento de cada uma. No entanto,
deve-se exigir rigor nas representações das informações que as crianças
elaboram, levando-as a refletir para que percebam o porquê de ser indispensável
esse mesmo rigor.
Segundo estes autores, há
duas formas possíveis de organização/representação dos dados: tabelas e
gráficos. Através da organização dos dados, deve-se também proceder à análise
dos resultados obtidos de forma a tentar dar resposta à questão inicialmente formulada.
As crianças estão habituadas a contactar com as tabelas, especialmente, pois na
maioria das salas de tarefas existem, por exemplo, o mapa de presenças, o mapa
do tempo, entre outros.
A última fase de OTD
prende-se com a análise e discussão dos resultados. As discussões em grande
grupo deverão basear-se naquilo que a representação transmite e, também na
importância dos dados apresentados levarem às conclusões das questões colocadas
inicialmente. Para este facto os educadores devem encorajar as crianças a
comparar dados, isto independentemente das crianças organizarem os seus dados
em tabelas ou em gráficos. As crianças devem refletir e analisar o que fizeram
individualmente e/ou em pequeno grupo e, posteriormente, em grande grupo
partilhando o que se vivenciou, o que decidiu, as conclusões a que se chegou,
entre outros aspetos relevantes, fazendo os colegas refletir e analisar de
forma crítica a representação elaborada.
Como se pode verificar as tarefas apresentadas proporcionam
o trabalho em grupo, deste modo, implica que as crianças saibam tomar decisões
em pequeno grupo, sabendo, desta forma, ouvir/respeitar a opinião dos outros. Em
grupo as crianças também deverão saber partilhar ideias e refletir sobre os
dados. Deste modo, em interação as crianças trabalham numa numa Zona de Desenvolvimento
Proximal (ZDP). Segundo o autor Bertrand,
a zona de desenvolvimento proximal é a distância que
existe entre o que se sabe fazer (o seu estado de conhecimentos real e a sua
perícia psicomotora actual) e aquilo que se pode fazer, isto é, o estado final
do seu desenvolvimento quando alguém lhe mostra como se joga (2001, p. 132)
Com
as tarefas a seguir propostas pretende-se que haja interação entre pares de
forma a estimular a troca de conhecimentos e aprendizagens.
Tarefas para trabalhar Organização e Tratamento de Dados no Jardim
de Infância
Objetivos gerais das
tarefas apresentadas
- Recolher dados do meio circundante;
- Organizar os dados em tabelas e/ou noutras formas de representação à sua escolha;
- Discutir e partilhar os resultados da recolha de dados.
Tarefa 1 – “Qual a nossa cor preferida?”
-
Crianças em grande grupo;
-
Educador sugere às crianças recolherem as cores preferidas das pessoas do
Jardim de Infância (aqui podem, além das crianças das outras salas de atividades,
incluir as assistentes operacionais e os educadores e, também, seria curioso,
recolher as cores preferidas dos encarregados de educação das crianças) – O tema/assunto
deve ser do interesse da criança. Desta forma, a ideia podia ter surgido de uma
situação anterior, de uma história, por exemplo ("As cores do Elmer" Autor: David Mckee, Editora: Caminho);
- Decidir
os pequenos grupos de crianças a serem formados;
-
Cada pequeno grupo ficaria responsável por uma sala de atividades, outro pelas
assistentes operacionais e educadores;
-
Cada pequeno grupo decide como quer recolher/registar os dados/cores preferidas
8º educador dá 3 hipóteses de recolha e cada grupo escolhe uma);
Objetivos pedagógicos:
·
Participar na discussão sobre a forma de registo mais adequada;
·
Trabalhar de forma cooperativa com os colegas;
·
Participar na construção do instrumento de registo.
Tarefa 2 – “Vamos recolher as cores preferidas do nosso Jardim de Infância”
- Cada pequeno grupo vai à
sala de atividades onde ficou de recolher os dados;
- O educador, enquanto cada
pequeno grupo está numa sala de atividades a recolher os dados deve ir
circulando pelo Jardim de Infância de modo a apoiar eventuais dificuldades das
crianças;
Objetivos pedagógicos:
·
Participar na recolha de dados e no seu registo;
·
Cooperar e interagir com as outras crianças das outras salas de atividades.
Tarefa 3 – “Que cores foram recolhidas?”
- Depois da recolha, num momento
posterior ou logo a seguir à tarefa 2, cada grupo analisa os dados registados;
- O educador apoia cada
grupo dando 3 hipóteses de representação da informação e cada grupo escolhe uma
(podem ser 3 hipóteses diferentes para cada grupo para haver maior diversidade
de representação);
Objetivos pedagógicos:
·
Refletir sobre os dados recolhidos;
·
Discutir sobre a forma como vão organizar os dados;
·
Participar na organização e tratamento dos dados elaborando a
forma de representação escolhida.
Tarefa 4 – “Vamos apresentar as cores preferidas do nosso Jardim
de Infância”
- Cada pequeno grupo apresenta ao grande
grupo a sua representação da informação elaborada – A representação (e.g.
gráfico de barras) deve ser elaborado numa tarefa relacionada com as artes
plásticas, por exemplo, trabalhando diversos materiais;
- Cada pequeno grupo faz uma análise
dos dados que recolheu (e.g. qual a cor preferida de cada sala de atividades;
qual a menos preferida; qual a cor que determinada sala não referiu, etc.);
Em grande grupo, no final de todos
apresentarem podem expor as representações recorrendo a análises comparativas
entre cada representação.
Objetivos pedagógicos:
·
Participar na discussão em grande grupo sobre os resultados
obtidos;
·
Refletir corretamente sobre as questões colocadas pelo grande
grupo e pelo educador;
·
Comparar suportes de organização de dados.
Referências Bibliográficas
Basile, C. (1999). Collecting data outdoors: Making connections to the
real world. Teaching Children
Mathematics,
8-12.
Bertrand,
Y. (2001). Teorias
contemporâneas da educação. Lisboa: Instituto Piaget.Cabral, A. (2003). Os gráficos no Jardim de Infância. Educação e Matemática, 71, 29-31.
Castro, J. & Rodrigues, M. (2008). Sentido do número e
organização de dados- Textos de apoio para Educadores de Infância. Lisboa: Ministério da Educação
(DGIDC).
Lacefield, W. (2009). The power odf representation: Graphs and Glyphs in
data analysis lessons for young learners. Teaching Children
Mathematics,
324-326.
National
Council of Teachers of Mathematics (2008). Princípios e normas para a
matemática escolar (2.ª edição). (APM, Trad.). Lisboa: APM (Obra original
publicada em 2000).

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